Se os jornalistas entraram em greve, ninguém nunca soube por que não foi publicado. Foi um ‘caos’ silencioso. Aliás, se Jesus voltasse, naquele dia, só saberia quem tinha twitter e passaporte para o Céu comprado na Renascer. E, na verdade, com o fim da obrigatoriedade do diploma, todos os formados em jornalismo ganharam a opção de usar o papel marcante do fim da graduação como mouse pad.
Na verdade, há um certo tempo que a gente fala na crise do jornalismo. Nenhuma profissão faz tanta auto-crítica quanto a nossa. É a internet que matou o impresso, é a TV que matou o rádio, é a jornalista que matou a gramática em rede nacional, é o estágio que paga mal e exige curso de preparação de café. É o fim. É o fim? Que nada, enquanto houver poodles de apartamento e passarinhos em gaiola, te garanto: o jornal impresso não acaba, mas mídias se somam e há espaço para quem não é funcionário-fantasma. Jornais e jornalistas morrem enquanto o jornalismo sobrevive, ás custas de experiências fracassadas e profissionais mal-sucedidos.
O que vale agora é que pouco mudou. Quem não é bom, como em qualquer profissão, não pode usar a graduação como muleta. Se funcionasse, talvez, como reserva de mercado, o jornalista sairia por aí, exibindo o diploma como distintivo de xerife. Mas não é. Agora, se a briga era por reconhecimento de mérito, de conhecimento de causa, e se é assim, use teu currículo, tua formação acadêmica, teus textos publicados, sua pesquisa, suas viagens, sua especialização. Já que ninguém inclui teste do sofá em CV, melhor manter isso na gaveta, por enquanto, até que desempenho sexual vire diferencial de mercado.
Jornalismo, como curso, é essencialmente técnico. A atuação, não. Na faculdade, aprende-se a pensar como jornalista, a escrever como jornalista e se posicionar como jornalista, com direito a peito inflado e tudo. No trabalho, é preciso ser sagaz, ter bagagem, ser ético, ter humildade de mudar de opinião em busca da verdade. E se a teoria e a prática se complementam, se o estudo e a atuação profissional caminham juntas, seria óbvio dizer que não é necessariamente preciso fazer uma faculdade para ter acesso à isso?
E se agora, a exigência que nunca existiu se acabou, que seja o fim dos jornalistas heróis. O fim da síndrome do Clark Kent,que constrói a notícia, que domina a opinião alheia e sabe os manejos do interesse público e interesse do público. E que a ele cabe o recurso de se passar por outra pessoa, de omitir informações, de blefar, chantagear, negar. O conhecimento é aberto, a atividade intelectual é democrática e a técnica pode ser aprendida até fora de 4 paredes. E quanto a boa e velha função social, a serviço do país…bom, se não é preciso mais ter diploma para ser jornalista, então temos mais de 180 milhões de jornalistas, não? Aja como um, seja curioso e saiba escolher os bons profissionais, com ou sem aquele pedaço de papel. O compromisso com a verdade é, e sempre foi, de todos.
Felipe Luno, no Pink Ego.
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